segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Palestina

Palestina
 
Região situada na extremidade oriental do Mediterrâneo, outrora ocupada pela antiga nação de Israel. Seu nome deriva-se do latim Palaestina e do grego Pa·lai·stí·ne. Esta última palavra, por sua vez, deriva-se do hebraico Pelé·sheth. Nas Escrituras Hebraicas, Pelé·sheth (traduzida “Filístia”) só ocorre com referência ao limitado território costeiro ocupado pelos filisteus. (Êx 15:14; Sal 60:8; 83:7; 87:4; 108:9; Is 14:29, 31; Jl 3:4) Heródoto, porém, no 5.° século AEC, e, mais tarde, outros escritores seculares (Filo, Ovídio, Plínio, Josefo, Jerônimo) usaram os termos grego e latino para designar todo o território anteriormente conhecido como a “terra de Canaã” ou a “terra de Israel”. (Núm 34:2; 1Sa 13:19) Por Jeová ter prometido essa terra a Abraão e seus descendentes (Gên 15:18; De 9:27, 28), ela era também chamada apropriadamente de Terra Prometida ou Terra da Promessa. (He 11:9) Desde a Idade Média, ela não raro tem sido chamada de Terra Santa.
 
Em certo sentido, a Palestina é o elo de ligação entre os continentes da Europa, da Ásia e da África. Isto a situava no centro de um círculo em torno do qual ficavam as antigas potências mundiais: Egito, Assíria, Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma. (Ez 5:5) Cercada por grandes desertos ao L e ao S, e pelo Grande Mar, ou Mediterrâneo, ao O, a Palestina servia como ponte terrestre entre os rios Nilo e Eufrates, ponte esta pela qual passavam as caravanas das rotas do comércio mundial. Situada no que se tem chamado de Crescente Fértil, a própria Palestina era de extraordinário interesse, sendo um lugar deleitoso, dotado de seus próprios recursos naturais e de características especiais.
 
O termo “Palestina”, conforme usado atualmente, refere-se a uma região indefinida. Não implica fronteiras precisas. Ao S, poder-se-ia traçar uma linha imaginária da extremidade sul do mar Morto até o canto SE do Mediterrâneo, e, ao N, outra linha, das encostas sulinas do monte Hermom até um ponto próximo da cidade de Tiro. Esta área, de N a S, “desde Dã até Berseba” (1Sa 3:20; 2Sa 3:10), tinha cerca de 240 km de extensão. Do mar Mediterrâneo, situado ao O, a Palestina se estendia até o deserto da Arábia, ao L. Ao todo, a área totalizava aproximadamente 25.500 km2, sendo menor que a Bélgica, mas um pouco maior que o estado de Sergipe, no Brasil.
 
Aspectos Geográficos. Para se ter uma visão abrangente da geografia da Palestina, seu território pode ser convenientemente dividido em quatro regiões um tanto paralelas, de N a S.
Primeiro, havia uma faixa de planície fértil ao longo da costa, costa que, na maior parte, tinha pouquíssimo a oferecer em termos de baías naturais. O promontório da imponente cordilheira do monte Carmelo, que quase se precipitava mar adentro, dividia esta planície costeira em duas partes. A parte norte era conhecida como a planície de Aser ou Fenícia. A parte sul ladeava dunas de areia aninhadas junto ao mar e consistia na planície de Sarom e na planície da Filístia, esta última alargando-se ao S.
 
A segunda região geográfica, perto das planícies marítimas, abrigava as principais cadeias de montanhas, que iam para o N e para o S como a espinha dorsal do país. Ao N havia as montanhas de Naftali, também chamadas de montes da Galiléia. Eram uma extensão das cordilheiras do Líbano, famosas por suas florestas de cedros e pelo proeminente monte Hermom, que se elevava a 2.814 m. As montanhas setentrionais da Palestina variavam em altitude, indo de 1.208 m, em Har Meron, na Galiléia Superior, a 562 m, no monte Tabor, que se tornou famoso nos dias de Baraque. (Jz 4:12) Abaixo do monte Tabor havia uma planície central comparativamente ampla que cortava transversalmente o país de O para L, separando as montanhas setentrionais das situadas ao S. Este vale, onde se travaram muitas batalhas decisivas, consistia em duas partes, a oriental “baixada de Jezreel” e a parte ocidental, o “vale plano de Megido”. — Jos 17:16; 2Cr 35:22.
 
Ao O e ao N do vale de Megido, que era drenado pelo rio Quisom, ficava a cordilheira do Carmelo, que ia na direção sudeste, desde a costa, e se juntava aos montes de Efraim, ou Samaria, onde se encontravam os históricos picos de Gerizim e de Ebal, este último tendo mais de 900 m de altitude. (De 11:29) Continuando para o S, esta cordilheira era conhecida como a “região montanhosa de Judá”, pois, embora as elevações variassem de 600 a mais de 1.000 m, a área consistia em grande parte em platôs, colinas arredondadas e encostas suaves. (2Cr 27:4; Lu 1:39) Era nesta região que se situavam cidades tais como Jerusalém, Belém e Hébron.
 
Gradualmente, os montes de Judá, ao S, fundiam-se com o Negebe, nome que se pensa provir duma raiz que significa “ser ressequido”, uma região que se estendia até o vale da torrente do Egito e constituía a parte sul da Palestina. Na borda norte do Negebe havia a cidade de Berseba, parecida a um oásis; na extremidade sul, Cades-Barnéia. — Gên 12:9; 20:1; 22:19.
Aproximando-se dos montes de Judá pelo O, chega-se à região colinosa conhecida como Sefelá, com seus diversos vales pequenos no sentido O-L que vão das planícies costeiras aos altiplanos. (Jos 9:1) Na maior parte, tais colinas eram apropriadas para a pastagem de rebanhos e de manadas, as fontes dos vales suprindo-lhes a água necessária.
 
O terceiro aspecto da geografia da Palestina era o grande Vale de Abatimento Tectônico, às vezes chamado de Arabá (De 11:30), que divide o país longitudinalmente de alto a baixo. Esta fenda profunda começava na Síria, ao N, e se estendia na direção sul por todo o caminho até o golfo de ‛Aqaba, no mar Vermelho. O que tornava ainda mais espetacular esta depressão central da terra eram as cadeias de montanhas e penhascos paralelos que a ladeavam.
 
Ao se seguir de N a S esta depressão de terra semelhante a uma trincheira, desce-se rapidamente dos contrafortes do monte Hermom à bacia Hulé, onde as cabeceiras do Jordão certa vez formavam um pequeno lago. Dali, o Jordão, em cerca de 16 km, rapidamente cai mais de 270 m até o mar da Galiléia, que fica a aproximadamente 210 m abaixo do nível do mar. Da Galiléia ao mar Morto, este grande abatimento tectônico da crosta terrestre é o vale do Jordão propriamente dito, e pelos árabes ele é chamado de Ghor, que significa “depressão”. Trata-se duma “garganta” que chega a atingir 19 km de largura em certos lugares. O Jordão propriamente dito fica a cerca de 45 m abaixo do piso deste vale, e, à medida que lentamente serpenteia até o mar Morto, ele continua a cair cerca de outros 180 m. Isto situa a superfície do mar Morto a aproximadamente 400 m abaixo do nível do Mediterrâneo — o ponto mais baixo da superfície da terra.
 
A extensão do Vale de Abatimento Tectônico ao sul do mar Morto por outros 160 km até o golfo de ‛Aqaba era mais comumente conhecida como o Arabá propriamente dito. (De 2:8) A meio caminho, ele atingia seu ponto máximo, cerca de 200 m acima do nível do mar.
 
A quarta região geográfica da Palestina consistia em colinas e planaltos ao L do grande abatimento tectônico jordaniano. (De 2:36, 37; 3:8-10) Ao N, esta terra arável estendia-se ao L do mar da Galiléia por talvez 100 km, enquanto que, ao S, sua largura era de apenas cerca de 40 km antes de se tornar um ermo, estepes áridas que, por fim, se perdiam no deserto da Arábia. A parte mais larga e setentrional desta ondulante região oriental, acima de Ramote-Gileade, era chamada de terra de Basã, com altitude média de cerca de 600 m; ao S de Basã, a região de Gileade, semelhante a uma cúpula, atingia a elevação de mais de 1.000 m. Ao S, Gileade se limitava com o chapadão situado ao N do vale da torrente do Árnon, em cuja área ficava localizado o monte Nebo, com mais de 820 m de altura. Esse território, que em certa época era possessão dos amonitas, fazia, por sua vez, fronteira ao S do vale da torrente do Árnon com a terra de Moabe. — Jos 13:24, 25; Jz 11:12-28.
 
Nomes Geográficos. Os antigos nomes hebraicos de muitas cidades, montes e vales foram perdidos, em parte devido à ocupação da Palestina pelos árabes, durante grande parte do tempo desde 638 EC. Mas, visto que o árabe é a língua viva mais aparentada ao hebraico, é possível, em alguns casos, identificar com considerável exatidão certos antigos lugares e sítios de eventos principais.
Alguns termos geográficos árabes e hebraicos comuns, que são de ajuda a relacionar locais com sítios bíblicos, são fornecidos na tabela que acompanha este artigo.
 
Condições Climáticas. O clima da Palestina é tão diversificado quanto sua topografia. Em questão de uns 160 km, do mar Morto ao monte Hermom, os extremos contrastantes de altitude produzem condições climáticas equivalentes às que em outras partes se estendem por milhares de quilômetros de latitude entre os Trópicos e o Ártico. O monte Hermom apresenta-se geralmente recoberto de neve grande parte do ano, ao passo que, ao longo do mar Morto, o termômetro às vezes registra 50°C. Brisas do mar, procedentes do Mediterrâneo, moderam a temperatura ao longo da cordilheira central. Em resultado disso, raramente a temperatura eleva-se para mais de 32°C em Jerusalém, e raramente cai abaixo de 0°C. A temperatura média em janeiro fica em torno de 10°C. Não é comum nevar nessa região do país. — Veja 2Sa 23:20.
 
A precipitação pluvial neste país de contrastes também varia grandemente. Ao longo da costa, a precipitação anual é de cerca de 380 mm, mas, nas maiores altitudes do monte Carmelo, na cordilheira central e nos altiplanos ao L do Jordão, o índice pluviométrico é mais que o dobro. Por outro lado, condições desérticas prevalecem no Negebe, no vale do Jordão inferior e na região do mar Morto, com um índice pluviométrico anual de 50 a 100 mm. A maior parte da chuva cai nos meses de inverno, de dezembro, janeiro e fevereiro; apenas 6 ou 7 por cento nos meses de verão, de junho a outubro. A leve chuva “temporã”, ou outonal, em outubro e novembro, permite a aragem do solo (endurecido pelo calor do verão), em preparação para a semeadura dos cereais de inverno. A chuva “serôdia”, ou primaveril, chega em março e abril. — De 11:14; Jl 2:23; Za 10:1; Tg 5:7.
 
Uma das grandes vantagens da Palestina é a abundância de orvalho, especialmente nos meses de estio, no verão, pois, sem o denso orvalho, muitos dos vinhedos e pastagens sofreriam grandemente. (Ag 1:10; Za 8:12) As brisas carregadas de umidade, que sopram do Mediterrâneo e as que vêm do monte Hermom, são responsáveis por grande parte do orvalho na Palestina. (Sal 133:3) Em certas áreas, o orvalho noturno é tão copioso que a vegetação consegue recuperar suficiente umidade para compensar as perdas sofridas durante o calor do dia. (Veja Jó 29:19.) De especial importância é o orvalho no Negebe e nos altiplanos de Gileade, onde a precipitação pluvial é mínima. — Veja post ORVALHO.
 
Plantas e Animais. A tremenda variedade de árvores, arbustos e plantas encontrados nessa pequena região da terra tem sido fonte de admiração entre os botânicos, um dos quais estima que cerca de 2.600 variedades de plantas cresçam ali. A diversidade de altitude, de clima e de solo contribui para essa variedade na flora, algumas plantas estando em seu ambiente natural no frio alpino, outras no deserto tórrido, e ainda outras na planície aluvial ou no platô rochoso, cada qual florescendo e produzindo sementes na devida época. A distâncias comparativamente pequenas umas das outras encontram-se palmeiras de clima quente e carvalhos e pinheiros de clima frio; salgueiros ao longo de cursos de água e tamargueiras no ermo. Essa terra também é famosa por seus vinhedos, olivais e figueirais cultivados, bem como campos de trigo, cevada e painço. Outras culturas incluem ervilha, feijão, lentilha, beringela, cebola e pepino, bem como algodão e linho. Os que visitam essa terra hoje em dia não raro ficam desapontados, a menos que seja primavera, época em que o campo está no viço, com seu espetáculo de flores. Na maior parte do ano, as encostas rochosas são áridas e desoladas. Outrora, contudo, determinadas partes do país eram mais densamente arborizadas do que atualmente, viçosas como o “jardim de Jeová”, um verdadeiro jardim botânico “que mana[va] leite e mel”, agradável e convidativo. — Gên 13:10; Êx 3:8; Núm 13:23, 24; De 8:7-9.
 
No passado, mais do que hoje, animais, aves e peixes eram abundantes na Palestina, que se assemelhava a um parque. O leão, o urso, o touro selvagem e o hipopótamo já não existem ali, mas entre os exemplares do reino animal que ainda podem ser encontrados acham-se o lobo, o javali, o gato selvagem, o chacal, a lebre e a raposa. Animais domesticados são comuns — a ovelha, a cabra, a vaca, o cavalo, o burro e o camelo. Estima-se que em Israel atualmente haja cerca de 85 diferentes espécies de mamíferos, 350 espécies de aves e 75 espécies de répteis.
 
Recursos Obtidos do Solo. Além de se mostrar uma terra bem-regada, capaz de produzir uma abundância de alimentos, as montanhas da Palestina continham úteis minérios de ferro e de cobre. (De 8:9) O ouro, a prata, o estanho e o chumbo tinham de ser importados, mas havia grandes depósitos de sal, e, no vale do Jordão, havia depósitos de argila para as indústrias de tijolo, de cerâmica e de fundição. (1Rs 7:46) Excelentes pedras calcárias para construção eram extraídas de pedreiras, e havia afloramentos de basalto negro, apreciado por sua dureza e fino grão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário